por Carlos A. Lozano Guillén [*]
Quadro de Fernando Botero. A senadora Piedad Córdoba (Partido Liberal) questionou em dias passados, em Madri, Espanha, a inconveniência de que a União Européia mantenha na "lista de organizações terroristas" as FARC e o ELN , grupos insurretos colombianos, de natureza política e militar e partes de um conflito de longas décadas no país. Realmente é inconsequente, se a UE aspira a contribuir para a paz na Colômbia e para a saída política do conflito armado, manter essa decisão claramente imposta pelas pressões dos governos colombiano e norte-americano, sócios da guerra contra o nosso povo.
Apesar de que a inclusão nessa lista das guerrilhas colombianas foi em 2002, posteriormente França e Espanha, acompanhadas da Suiça, que não é membro da União Européia e não considera como terroristas as FARC e o ELN, contribuiram como "países amigos" para a libertação de detidos em razão do conflito armado e na busca do intercâmbio (troca) humanitária de prisioneiros de guerra. Com dois de seus emissários, Noé Sáenz e Jean Pierre Gontard, processados e perseguidos com o pretexto de que seus nomes constam os computadores de Raúl Reyes (assassinado no Equador em 2008).
Muito oportuna a alusão de Piedad Córdoba e, além disso, necessária de ser atendida, porque se existe a disposição da União Européia de contribuir no futuro para a paz da Colômbia diante do fracasso da guerra uribista, tem que adotar decisões que facilitem seu papel neste sentido. O contrário é quase que autoexcluir-se de uma gestão humanitária, própria de um coflito de natureza política e social como o colombiano.
Lembro que quando se adotou a decisão em junho de 2002, encontrava-me na Europa, em um giro, quase que solitário, promovendo a idéia da troca de prisioneiros ou intercâmbio humanitário, no início do primeiro governo de Álvaro Uribe Vélez, que não aceitava qualquer compromisso sobre o tema, muito menos para a paz negociada. Diante de funcionários das chancelarias da Espanha, Suécia, Áustria, França, Itália, Bélgica e do Vaticano, deixei claro que essa decisão não contribuia para o futuro papel dos europeus como facilitadores ou mediadores de paz em nosso país. O que seria, na eventualidade de aproximações entre as partes, quase que indispensável, porque a desconfiança recíproca ia ser um fator de perturbação e obstáculo.
Observei que as chancelarias, pelo menos a maioria delas, tinham a mesma percepção. Mas foi o funcionário espanhol, ainda no governo de José Mária Aznar, que me deu a explicação de fundo: "Não podemos eludir a exigência do irmão maior", me disse. Resta dizer que o "irmão maior" era o governo de George W. Bush, sócio da Espanha e da Grã-Bretanha na agressão terrorista ao povo iraquiano. É parte da hipocrisia destes países em temas fundamentais nos quais prima o interesse de classe. Simplesmente isso.
[*] Membro do Burô Político do Partido Comunista Colombiano e editor do jornal "VOZ".
O original encontra-se em "Voz", nº 2542, a tradução em pcb.org.br
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
23/Jun/10
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