Luís Rocha
Ainda estavam frescas as eleições parlamentares da Venezuela, a Greve Geral no Estado Espanhol e as manifs por toda a Europa, incluindo em Portugal – e um sentimento geral que nós podemos fazer melhor que isto – e eis que surge a notícia de Golpe de Estado no Equador.
Foi uma sensação que fazia lembrar aquele pacote de austeridade do Sócrates a cair nas nossas cabeças mal chegamos a casa das manifs de 29 de Set em Lisboa e no Porto (onde o ambiente pareceu ainda muito murcho, apesar de já abundarem exasperantes apelos à Greve Geral).
O Golpe de Estado no Equador foi verdadeiramente surreal. E têm razão aqueles que na esquerda sem menosprezar a gravidade do evento o tratam apenas como “revolta”. Explico me: este episódio pode ser apenas um ensaio para um verdadeiro Golpe de Estado, caso Correa não rectifique os erros clamorosos que anda a cometer.
Porque que me pareceu surreal o Golpe? Por vários motivos, o episódio incluiu a visita do presidente Correa a uns polícias amotinados por causa reivindicações laborais (segundo consta), sem que se tivesse falado em deposição do presidente ou últimtum como é habitual nos verdadeiros Golpes de Estado (onde estava a toma de poder? Onde estava a junta de governo provisória e sobretudo onde estavam os generais?), e o apoio ao motim policial da parte de um partido de esquerda o MPD que até à pouco era da base do governo e votou em Correa nas presidenciais (o MPD é uma frente político-eleitoral do maior partido comunista do Equador de linha estalinista-hoxxista, para quem não saiba estalinismo albanês) sem dúvida perigoso e irresponsável, mas não é a primeira vez que Correa entra em conflito com aqueles que o elegeram.
O MPD – que domina os principais sindicatos do país - fala em como Correa aprovou leis neoliberais que retiram direitos aos trabalhadores do sector público e que apontam para o despedimento 225 mil funcionários. Algo de verdade deve haver nestas denúncias tal como algo de verdade houve certamente no conflito anterior entre o movimento camponês indígena e o governo de Correa a propósito de terras indígenas demarcadas e o interesse de certas empresas de mineração. O movimento camponês e indígena foi ainda mais crucial que os sindicatos do MPD para a chegada de Correa ao poder.
http://www.mpd15.org.ec/boletines1.php#ma42
Entre as atitudes irresponsáveis que aproveitam à direita golpista do MPD e o ouvido duro de Correa perante as reivindicações dos sindicatos e movimentos sociais que são a sua base de apoio social e político –eleitoral faz se um caldo ideal para ser servido aos golpistas de direita que com o apoio dos EUA (a CIA eo Pentágono) mal podem esperar por colocar o Equador de novo na órbita da vizinha Colômbia uribista e latifundista, com a reconstrução da Base norte-americana de Manta que vem por acréscimo.
Ou seja o perigo de Golpe de Estado no Equador é verdadeiro e muito real, sobretudo porque Correa está constantemente a dar tiros no pé ao governar escandalosamente contra as suas bases sociais e os partidos de esquerda que são seus naturais aliados. Eu creio que Correa queria fazer como Lula, o progressismo ficava reservado para a política externa e o neoliberalismo continuaria internamente mais por inércia do que pela sua acção. O que Correa parece não perceber é que ele não domina os movimentos sindicais e camponês tal como Lula conseguiu de alguma forma fazer com a CUT e o MST (este último menos), na realidade os movimentos sociais do Equador mostram uma independência e combatividade que obrigam Correa a negociar, mas ele segue uma política autista que não parece ouvi-los.
Neste último episódio Correa foi mexer com direitos laborais da polícia e do exército, de tal maneira que esta revolta – o tal Golpe de Estado – foi da autoria de sectores intermédios da polícia e não houve generais, pelo menos a dar a cara.
A questão permanece se Correa não governa minimamente para as suas bases, governa para quem?
Se Correa não rectifica esta cegueira e atitude suicida, na próxima tenetativa o Golpe de Estado poderá ser mesmo consumado, com consequências tão graves como nas Honduras.
Post scriptum: Que nos sirva de lição, as agendas dos partidos de esquerda não tem valor algum quando se desligam dos movimentos sociais. Dia 24 de Novembro todos à Greve Geral em Portugal! Até que enfim! E isto é bem mais importante que mil eleições presidenciais...
Informação
Agência Bolivariana de Notícias
Solidariedade Internacional
Tirem as Mãos da Venezuela (Brasil)
Manos Fuera de Venezuela (Espanha)
Pas Touche Au Venezuela (França)
Giù Le Mani Dal Venezuela (Itália)
Pas Touche Au Venezuela (Bélgica)
Häende weg von Venezuela (Suíça)
Hände weg von Venezuela (Alemanha)
Handut Irti Venezuelasta (Finlândia)
Hands off Venezuela Sverige (Suécia)
Manos Fuera de Venezuela (Argentina)
Manos Fuera de Venezuela (México)