Quinta-feira, 7 de Outubro de 2010

Correa e o Golpe

Luís Rocha


Ainda estavam frescas as eleições parlamentares da Venezuela, a Greve Geral no Estado Espanhol e as manifs por toda a Europa, incluindo em Portugal – e um sentimento geral que nós podemos fazer melhor que isto – e eis que surge a notícia de Golpe de Estado no Equador.


Foi uma sensação que fazia lembrar aquele pacote de austeridade do Sócrates a cair nas nossas cabeças mal chegamos a casa das manifs de 29 de Set em Lisboa e no Porto (onde o ambiente pareceu ainda muito murcho, apesar de já abundarem exasperantes apelos à Greve Geral).


O Golpe de Estado no Equador foi verdadeiramente surreal. E têm razão aqueles que na esquerda sem menosprezar a gravidade do evento o tratam apenas como “revolta”. Explico me: este episódio pode ser apenas um ensaio para um verdadeiro Golpe de Estado, caso Correa não rectifique os erros clamorosos que anda a cometer.


Porque que me pareceu surreal o Golpe? Por vários motivos, o episódio incluiu a visita do presidente Correa a uns polícias amotinados por causa reivindicações laborais (segundo consta), sem que se tivesse falado em deposição do presidente ou últimtum como é habitual nos verdadeiros Golpes de Estado (onde estava a toma de poder? Onde estava a junta de governo provisória e sobretudo onde estavam os generais?), e o apoio ao motim policial da parte de um partido de esquerda o MPD que até à pouco era da base do governo e votou em Correa nas presidenciais (o MPD é uma frente político-eleitoral do maior partido comunista do Equador de linha estalinista-hoxxista, para quem não saiba estalinismo albanês) sem dúvida perigoso e irresponsável, mas não é a primeira vez que Correa entra em conflito com aqueles que o elegeram.


O MPD – que domina os principais sindicatos do país - fala em como Correa aprovou leis neoliberais que retiram direitos aos trabalhadores do sector público e que apontam para o despedimento 225 mil funcionários.  Algo de verdade deve haver nestas denúncias tal como algo de verdade houve certamente no conflito anterior entre o movimento camponês indígena e o governo de Correa a propósito de terras indígenas demarcadas e o interesse de certas empresas de mineração. O movimento camponês e indígena foi ainda mais crucial que os sindicatos do MPD para a chegada de Correa ao poder.

http://www.mpd15.org.ec/boletines1.php#ma42


Entre as atitudes irresponsáveis que aproveitam à direita golpista do MPD e o ouvido duro de Correa perante as reivindicações dos sindicatos e movimentos sociais que são a sua base de apoio social e político –eleitoral faz se um caldo ideal para ser servido aos golpistas de direita que com o apoio dos EUA (a CIA eo Pentágono) mal podem esperar por colocar o Equador de novo na órbita da vizinha Colômbia uribista e latifundista, com a reconstrução da Base norte-americana de Manta que vem por acréscimo.


Ou seja o perigo de Golpe de Estado no Equador é verdadeiro e muito real, sobretudo porque Correa está constantemente a dar tiros no pé ao governar escandalosamente contra as suas bases sociais e os partidos de esquerda que são seus naturais aliados. Eu creio que Correa queria fazer como Lula, o progressismo ficava reservado para a política externa e o neoliberalismo continuaria internamente mais por inércia do que pela sua acção. O que Correa parece não perceber é que ele não domina os movimentos sindicais e camponês tal como Lula conseguiu de alguma forma fazer com a CUT e o MST (este último menos), na realidade os movimentos sociais do Equador mostram uma independência e combatividade que obrigam Correa a negociar, mas ele segue uma política autista que não parece ouvi-los.


Neste último episódio Correa foi mexer com direitos laborais da polícia e do exército, de tal maneira que esta revolta – o tal Golpe de Estado – foi da autoria de sectores intermédios da polícia e não houve generais, pelo menos a dar a cara.


A questão permanece se Correa não governa minimamente para as suas bases, governa para quem?

Se Correa não rectifica esta cegueira e atitude suicida, na próxima tenetativa o Golpe de Estado poderá ser mesmo consumado, com consequências tão graves como nas Honduras.


Post scriptum: Que nos sirva de lição, as agendas dos partidos de esquerda não tem valor algum quando se desligam dos movimentos sociais. Dia 24 de Novembro todos à Greve Geral em Portugal! Até que enfim! E isto é bem mais importante que mil eleições presidenciais...

publicado por Rojo às 10:07
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