TeleSUR 23/02/2009
A Venezuela submeteu-se a referendo de aprovação de uma modificação à Carta Magna (Constituição) da República, por meio da qual, se outorga ao povo venezuelano a possibilidade de eleger, sem restrição de número de madandatos, os cargos de eleição popular. Perante essa questão, formaram-se dois grupos, um do Sim, que apoiava a proposta e ao Governo do Presidente Chávez e um do Não, representado pela oposição ao Executivo Nacional.
Dos 11 milhões, 724 mil e 224 de cidadãos, que assistiram às urnas, 54,86 por cento aceitou a proposta da Assembleia Nacional e 45, 13 por cento, rejeitou.
Com estes resultados, difundidos pelo órgão eleitoral venezuelano, ficou claro, como o disseram desde o presidente Hugo Chávez até dirigentes da oposição, que o triunfo do Sim foi rotundo.
O jornalista e professor universitário Díaz Rangel (redactor de um jornal de grande tiragem), disse em seu artigo de domingo publicado no diário nacional Últimas Notícias que "as forças do Sim obtiveram uma sólida vitória, que não pode ser escamoteada".
Por sua vez, a vice-presidenta do partido do governo, Partido Socialista Unidos de Venezuela (PSUV), da região ocidental Zulia -Falcón, Jaqueline Farías, expressou: "O país de novo veste-se de vermelho rojito (vermelhito) e temos em território uma maioria esmagadora, e em votos uma maioria muito significativa".
Enquanto o governador opositor do estado Miranda (norte) da Venezuela, Henrique Capriles Radonsky, em entrevista exclusiva oferecida a TeleSUR felicitou o primeiro mandatário nacional pelo triunfo, e disse que tem a disposição de trabalhar junto com ele para realizar mudanças no estado (província) que dirije.
A campanha
Durante o tempo que durou a campanha, tergiversou-se a informação em torno da cobertura dada a cada lado em disputa nos meios de comunicação.
Os sectores opostos ao Governo nacional basearam sua campanha no slogan "Não é Não", e difundiram nos meios de comunicação que o que se procurava com a emenda, era a reeleição indefinida do Chefe de Estado venezuelano.
"Muito nos atacaram, muito trataram de desvirtuar esta grande abertura que se conseguiu no dia 15 de Fevereiro, (...) esta grande possibilidade dos direitos políticos deste povo que trataram de disfarçar como uma monarquia, como uma reeleição indefinida", denunciou a vice-presidenta do Partido Socialista Unidos de Venezuela (PSUV), região ocidental Zulia - Falcón, Jaqueline Farías.
Por sua vez, os do Sim focaram sua campanha em desmentir esse argumento e dedicaram-se a explicar como com a modificação dos cinco artigos da Constituição, o mandatário Hugo Chávez pode ser de novo candidato nas eleições presidenciais de 2012, bem como os demais cargos de eleição popular podem aspirar de maneira sucessiva ao cargo que já ocupam, sem nenhuma restrição legal que limite a vontade do povo soberano.
"Bom os meios de comunicação, medidos por entes totalmente alheios ao processo revolucionário, colocaram em 70 para 30% as opiniões contra o sim. 70 por cento das opiniões, mais as propagandas de tudo o que se dizia nos meios de comunicação a favor do Não e só davem 30 por cento a favor do Sim", recordou Farías.
"Mas o povo entendeu as bondades desta emenda, o povo entendeu as possibilidades que isto lhe dá", acrescentou.
Por sua vez, o jornalista Eleazar Díaz Rangel, explicou que "com toda a vantagem que pôde significar para o Sim o uso desmedido dos recursos estatais, o vantajismo dos meios de comunicação a favor do Não é supremamente superior".
Neste sentido, de acordo com estudos do Observatório de Meios de Comunicação, "tem sido estimada em uma desproporcionada relação 75 por cento para 25 por cento", a desvantajem do Sim, nos espaços que se deram nas empresas informativas do país a ambas as posições.
É o que o embaixador Roy Chaderton denominou "ditadura mediática", quando expressou que ainda que "a democracia bolivariana nade na contramão da corrente", esta tem duas opções "ou se afoga ou fortalece a sua musculatura. E é tão poderoso o desenvolvimento da musculatura espiritual e intelectual do povo venezuelano que pudemos vencer à ditadura mediática".
Ao comparar os resultados deste referendo com os do anterior, realizado em Dezembro do ano de 2007 para uma reforma constitucional, pode-se comprovar que o apoio ao Sim cresceu 44 por cento, enquanto o apoio ao Não, só aumentou 15 por cento.
Nas eleições do ano 2007, o Sim obteve quatro milhões, 370 mil e 392 votos, enquanto no referendo de 15 de Fevereiro de 2009 atingiu seis milhões, 310 mil e 482, que representa 44 por cento de incremento. Por sua vez, o Não conseguiu em 2007, quatro milhões, 504 mil e 353 votos e nas eleições recentes a sua cifra foi de cinco milhões, 193 mil e 839, isto é, um aumento de 15 por cento.
Resultados nos sectores sociais
Um estudo da Fundação Centro de Estudo sobre Crescimento e Desenvolvimento da População Venezuelana (Fundacresa) sobre a estrutura socioeconómica do país, publicado no diário nacional Últimas Notícias, destaca dados relevantes da contenda eleitoral do passado 15 de Fevereiro.
Fundacresa encarrega-se de pesquisar as mudanças que se produzem na população e suas consequências, segundo o estrato social e a influência dos factores culturais, físicos, ambientais, entre outros.
O estudo refere que os eleitores pertencentes aos estratos sociais A e B (os mais ricos), que correspondem a 8,2 por cento de quem exerceram seu direito de voto, votaram todos pela opção Não.
Do sector C, que representam 11,9 por cento dos votantes, 70 por cento respaldou o Não e 30 por cento disse Sim. No caso do estrato social D, (39,2 por cento dos eleitores), 35,81 por cento marcou Não e 64,27 por cento decidiu Sim.
Por sua vez, no fragmento mais pobre da sociedade (sector E) que foi a votar, que representa 40,7 por cento dos que assistiram às urnas, 35,81 por cento optou pelo Não e 64,19 por cento disse Sim à emenda constitucional.
Perante estes resultados fica provado que os sectores populares mantêm seu respaldo às políticas socialistas do presidente Hugo Chávez. No entanto, vale a pena perguntar porque esses 35,81 por cento da classe mais pobre votou contra a emenda.
"Para mim, junto à ineficiencia administrativa, o sectarismo, a corrupção, a falta de solução dos problemas de insegurança, a explicação está na influência dos meios de comunicação", respondeu à interrogante do parágrafo anterior, o jornalista venezuelano Eleazar Díaz Rangel.
Muitas são as lições que deixaram os resultados para ambas as posições em disputa. Neste sentido, o presidente Chávez tem impulsionado desde o triunfo do Sim à emenda, a reactivação do plano as três R: Revisão, rectificação e reimpulso.
O citado plano implica entre outros aspectos, a reconstrução das instituições e a luta contra a insegurança.
Outra das lições é o significativo espaço entre o Sim e o Não. "10 por cento de brecha eleitoral entre uma opção e outra é um mundo, é muito, é uma cifra estonteante", manifestou em declarações exclusivas à página do Site da TeleSUR, Josetxo Zaldúa, Chefe de Edição do jornal La Jornada, México, que foi observador internacional no referendo da emenda.
"Há dois blocos enfrentados, no bloco do Não , eu teria em conta que não há uma liderança política de oposição, como há uma liderança clarísima no Sim e essa liderança claro tem um nome e um apellido, o nome é Hugo e o apellido é Chávez", disse Zaldúa.
"Marcou-se uma distância que não é nada fácil encontrar na história eleitoral venezuelana. Que não seja nas presidenciais ganhas por Hugo Chávez com mais do 20 por cento", disse por sua vez o jornalista Díaz Rangel.
Essa brecha entre o Sim e o Não à emenda, pode gerar diferentes leituras, mas há algo comum nas duas posições que prevalecem na Venezuela: Muito trabalho fica por fazer e muito caminho fica por percorrer.
Um Horizonte: "A pátria eterna"
O presidente da república, Hugo Chávez, uma vez que a emenda foi aprovada por consulta popular, enfatizou que o que se vai a eternizar no poder é a pátria, "há um potencial a levantar-se: a pátria eterna, a pátria perdurável".
"Hoje podemos dizer que é uma volta da pátria, porque a pátria se tinha ido e agora volta conosco para se fazer perpétua, a pátria somos todos", enfatizou o mandatário no acto de promulugação da emenda constitucional.
Também, na intervenção que fez, depois de conhecer o primeiro escrutinio dos resultados do referendo, no passado 15 de Fevereiro, o mandatário anunciou que trabalhar-se-á para conseguir "a consolidação do que se semeou nestes 10 anos de revolução".
Por sua vez, o reitor da Universidade Nacional Experimental, Manuel Mariña Muller, disse em entrevista exclusiva à TeleSUR que na actualidade, "o grande repto é como desmontar uma matriz mediática, uma matriz de opinião que tem alienado lamentavelmente muitos venezuelanos que votaram pelo Não, achando que votar pelo Sim, não era votar por uma proposta democrática, (...) sem ter muito claro a profunda democracia do que significa a possibilidade de uma postulação contínua".
Enquanto, Josetxo Zaldúa, Chefe de Edição de La Jornada, México manifestou, em entrevista exclusiva à página do Site da TeleSUR, desde seu ponto de vista de observador internacional no processo, que o que fica por fazer é impulsionar a economia do país.
"Os dois laos continuam onde estavam até antes do domingo (15 de Fevereiro) e eu creio agora que o que talvez falta e com muita urgência, porque o tempo se acaba de algum modo, é de continuar a tratar de reduzir as distâncias, as brechas políticas, para que isso permita dedicar-se ao que eu acho que é o problema fundamental deste país e de todo mundo, a crise económica que vai começar a passar facturas à América Latina", considerou Zaldúa.
Ante os diferentes panoramas que se possam ter do que segue após o referendo, a Venezuela no visão de um observador internacional, deu a seguinte imagem:"Estão os dois blocos enfrentados neste país muito claramente. Esse conflito digamos que mediático que trazem uns e outros, chavistas e antichavistas, não tem uma correlação na rua. Na rua, a gente fala com muitíssima liberdade, há muito respeito à opinião alheia", disse o mexicano Josetxo Zaldúa, Chefe de Edição da Jornada.
"Em outros países, o risco de conflitos sociais por uma confrontação mediática causada pelos media é muito alto. Na Venezuela há como uma natureza humana bem mais generosa", manifestou o observador internacional mexicano, Josetxo Zaldúa.
Luinés Daniela Sánchez
Fonte: TeleSUR
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